terça-feira, 30 de outubro de 2012

Recorde de Temperatura em Curitiba

A temperatura hoje (dia 30 de outubro) em Curitiba chegou a 34,1C. Trata-se da maior temperatura registrada em um mês de outubro desde 1936. Acredito eu que 1936 tenha sido o início das medições. Assim sendo, seria a maior temperatura em outubro da história. A cidade de São Paulo também teve a maior temperatura de outubro da história, com 36,1C.

Mas não pensem que no litoral, normalmente mais quente que Curitiba, fez mais calor. Por lá a temperatura mal chegou a 30C e ficou nublado quase o tempo todo, estando apenas 25C em Paranaguá no momento que aqui, em Curitiba, estava 31C.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Saída de Campo - outubro de 2012

     Entre os dias 12 e 14 de outubro de 2012, participei de uma saída de campo para observação do céu juntamente da Cristhiane, Emílio, Lilian e Lucas. Hospedamo-nos na Pousada Fazenda Guartelá, perto de Tibagi (PR) para essas duas noites de observação, além de passeio pelo Parque Estadual do Guartelá. Cheguei com a Cristhiane já de noite, com muita neblina e garoa na estrada entre Castro e Tibagi. Ao nos instalarmos na pousada passei rapidamente com ela no quarto ao lado, onde estavam hospedados o Emílio e a Lilian. O Lucas também estava lá apesar de estar hospedado no camping. Quis conhecer o novo telescópio de 400mm, feito pelo Sandro para a Sociedade dos Astrônomos Amadores (SAA), ainda a ser inaugurado. Um tarugão, que quando apontado para cima fica mais alto que eu. Fomos então comer algo em Tibagi, e foi no caminho que meus colegas e a Cristhiane viram uma ou outra estrela em meio às espessas massas de nuvens.
 
     De volta à pousada os buracos nas nuvens aumentaram, revelando mais estrelas. Mas havia, também, um vento muito forte! Mas nos animamos de montarmos os telescópios lá fora. Estávamos todos ávidos para vermos o 400mm em ação.

    Havendo vários espaços grandes entre as nuvens, a magia da noite se revelou. O Lucas estava doido para apontar o telescópio para dois de seus xodós, as galáxias em forma de charuto NGC 55 e NGC 253, mas antes apontamos para um xodó meu: a nebulosa da Hélice. Que imagem! Era possível ver a estrutura da nebulosa, além da imagem ser bastante clara. Depois as galáxias do Lucas se revelaram para nós muito mais bonitas, com mais contraste, do que qualquer visão que já tivemos delas. Dois charutões magníficos, fininhos, mas muito alongados. Para ficar na mente o resto da vida.
 
    Poucos minutos mais tarde o Lucas e o Emílio estavam alguns metros de distância de mim, em outro ponto, enquanto eu olhava a NGC 55 pelo telescópio de 400mm. E foi aí que aconteceu.
 
     Um ponto como uma estrelinha passou bem na frente do campo de visão, indo de um lado ao outro quase instantaneamente, cortando a galáxia pelo meio em um ângulo de 45 graus. Corri para contar a eles que eu presenciara um meteoro na frente da galáxia. O Lucas até me disse "Ah, não faça isso com minha galáxia!"
 
    Estando o vento muito forte e frio, fazendo as imagens dos telescópios balançarem, resolvemos guardar as coisas e dormir.
 
    O dia seguinte, sábado, amanheceu bonito e com Sol. Não muito quente, contudo. Fomos fazer o passeio ao Cânion Guartelá, e durante o passeio o céu foi devagarinho fechando, até ficar quase totalmente encoberto no meio da tarde. Passamos em Tibagi e compramos carne para churrasco e depois descansamos na pousada. Pouco antes das 18 horas saí do quarto e vi o Lucas dormindo em sua Variant. Ele acordou, e resolvemos ir tentar ver o pôr do Sol da estradinha de acesso à pousada. Havia uma estreita faixa de céu limpo a oeste, que estava ficando alaranjada. A propósito, foi minha primeira experiência de andar de Variant com o Lucas!
 
    Realmente o Sol passou pela faixa e lançou seu brilho durante uns 3 minutos até se pôr. Ao mesmo tempo, notamos que o céu parecia estar abrindo em alguns pontos, revelando um grande buraco crescente nas nuvens. Voltamos para a pousada.

    À noite o céu estava dominantemente aberto. Logo após o anoitecer, era hora de começar a festa. O vento estava fraco, a temperatura razoável. Levamos para fora dos quartos os telescópios de 400mm da SAA e o meu de 200mm, também construído pelo Sandro. Logo no começo apareceu uma família de outro quarto curiosa com a movimentação, incluindo uma criança. Mostrei para eles pelo meu telescópio o aglomerado M6 e a Nebulosa da Lagoa. Eles se impressionaram com a quantidade de estrelas.

    Comecei um time lapse da região norte do céu, e nas fotos apareceram manchas avermelhadas que me eram estranhas. Talvez nuvens altas... mas não havia nuvens altas e nem cidades grandes para iluminar qualquer nuvem.

    A noite continuava linda. Era muito escura, dada à ausência de poluição luminosa na região. As estrelas no horizonte tinham tanto brilho quanto às do alto. Era revigorante ver aquela quantidade de estrelas no céu, é algo que faz bem.

    Começamos com os xodós do Lucas, NGC 55 e NGC 253. Dessa vez comparei as imagens do 400mm com as do 200mm, e havia diferença. No 400mm a ocular que estava sendo usada a maior parte do tempo era uma de 56mm (de 2 polegadas), e eu utilizava uma de 19mm no meu (1,25 polegada). A imagem dos objetos no 400mm era muito contrastada e clara, podendo-se aplicar mais aumento e ainda manter o brilho dos objetos.
 
    Peguei o 400mm e comecei a passear pelo céu, procurando algo. O resto do pessoal se afastou um pouco, indo para outro ponto. Então, aconteceu de novo.

    Durante uma minúscula fração de segundo achei ser o rastro do laser verde que havia cruzado o campo de visão do telescópio (até porque o Emílio e o Lucas estava com seus lasers ligados), mas passada essa fração de segundo percebi que não poderia ser. Um risco verde apareceu cortando instantaneamente de um lado ao outro do campo de visão, tendo deixado um rastro de fumaça que se manteve por quase 1 segundo. Corri para contar para eles que eu acabara de ver um meteoro queimando em verde na atmosfera, pelo campo do telescópio.

    Decidi mostrar para a Cris no 400mm o aglomerado 47 Tucana. Incrível a quantidade de estrelas em volta do seu núcleo super denso! Esse núcleo denso se revela como uma bola muito compacta de estrelas, bem clara, com uma infinidade de estrelinhas ao redor.

    O próximo alvo foi a galáxia de Andrômeda, que todos estava muito curiosos em ver. A olho nu ela estava muito fácil de ser percebida. O Lucas apontou e se impressionou com a extensão da galáxia no campo de visão, atravessando o campo de um lado ao outro mesmo com pouco aumento. Chamei novamente a Cris, e o Emílio chamou a Lilian, e as duas se impressionaram com o brilho da galáxia. Mostrei também uma das galáxias-satélite de Andômeda. Na sequência, fomos para a galáxia do Triângulo (M30).

    Decidimos começar a preparar o churrasco. Já havia um bom tempo que o Lucas havia deixado sua câmera fazendo fotos em time lapse, e assim ficaria o resto da noite até o começo do amanhecer. Comemos um churrasco muito bom! Mas o vento catabático voltou a atacar. Mesmo assim, tiramos um tempinho para as fotos "oficiais" do evento, com todos nós e os dois telescópios.

    Mais tarde a Cris e a Lilian foram para os quartos, e eu, o Lucas e o Emílio continuamos as observações, dessa vez com o intuito de achar objetos de céu profundo mais difíceis, com a ajuda de atlas celestes. E começamos bem. O Lucas e o Emílio localizaram um agrupamento de galáxias e me chamaram para ver ao telescópio. Lucas me explicou que não sabia o nome delas, mas para primeiramente localizar uma galáxia no centro do campo de visão. Partindo dela, fui instruído a localizar outra bem pertinho dela na direção das 11 horas. Depois voltar à primeira e achar outra nas 7 horas. Depois voltar e achar outra às 5 horas, um pouco mais longe que a anterior. Depois, partindo dessa última, resolvi eu mesmo perscrutar aquela região e achei uma forte na direção das 8:30 da última. Ou seja, uma pequena área do céu lotada de galáxias. Fizemos uma anotação mental de procurarmos a identificação dessas galáxias depois (mais tarde o Lucas me informou que tinha mais uma na região, que passei direto).

    Para fins de registro, essas galáxias, na ordem mencionada, são: NGC 1399, NGC 1404, NGC 1387, NGC 1380 e NGC 1365. A que pulei foi a NGC 1374.

    Ainda o Lucas começou a procurar uma nebulosa planetária na Baleia e eu quis achar uma galáxia perto da NGC 55, a NGC 300. Peguei o atlas e comecei a decorar as estrelas na região. O Lucas achou a nebulosa, e depois um aglomerado estelar próximo. Adorei esses objetos. Mas cismei com a NGC 300. Voltei ao atlas para tentar achá-la pelo meu telescópio. Depois de um tempo, sucesso!! Nada tão bonito assim, mas consegui! Logo depois, o Lucas achou uma outra galáxia em forma de charuto, muito fraca. Visão periférica era necessária para percebê-la melhor.

    Em algum momento estávamos reunidos apenas olhando o céu, sem os telescópios. E foi aí que o melhor meteoro de todos se mostrou. Ele veio do sul para o norte e demorou algo como 4 segundos queimando na atmosfera, e deixou um rastro de fumaça atrás de si que perdurou uns 3 segundos. Quem não estava olhando teve tempo de sobra para virar o rosto e olhar.

    Órion já tinha nascido havia algum tempo e resolvi ir para um dos clássicos, a Nebulosa de Órion. Que vista pelo 400mm! A estrutura dela ficou magnífica mesmo com um aumento maior, além de parecer muito luminosa. Depois, o Emílio cismou com uma nebulosa perto de Sirius, o Capacete de Thor. Eu e ele nos curvamos frente aos atlas e ao computador e, depois de um pouco de luta, consguimos achá-la. Muito fraca mas sempre uma vista magnífica, por isso o desafio. Sucesso! Afinal, são objetos longínquos, à distâncias inimagináveis, e achá-los ao telescópio nos traz sempre uma sensação de sucesso e missão cumprida.

    Apesar de estar ainda bastante ativo e sem sono, resolvi ir para o quarto pouco depois das 3 horas da manhã. O Lucas e o Emílio ainda ficaram mais tempo. Mas me ficou a sensação de uma noite como há muito não sentia. Estar em turma observando o céu dessa maneira é sempre memorável. Apesar dos ventos, foi muito bom. Momentos desse encontro vão ficar para a lembrança.

    O vento era muito forte, tive até que correr atrás de uma cadeira que saiu rolando e que não queria parar. Os telescópios balançavam apesar das suas montagens estáveis. Mas o céu estava magnífico! No domingo, perguntei para o pessoal da pousada se aquele vento era comum na região, mas me disseram que não. Era um fenômeno que ocorria somente de vez em quando.

    Já em Curitiba descarreguei as fotos do meu time lapse e realmente havia muitas manchas vermelhas no céu, que se deslocavam muito devagar para o leste. Imaginei que a causa provável dessas manchas era o fenômeno chamado airglow. Eu nunca tinha imaginado poder fotografar esse tipo de fenômeno, que geralmente aparece verde nas fotos. Contatei o Les Cowley, do site Atmospheric Optics, e ele também achou que consegui um airglow vermelho.
 
     Resumindo: foi uma saída de campo memorável!
 
     A seguir, está uma foto tirada pelo Emílio do grupo reunido em uma das fotos oficiais, e na sequência uma foto do tal airglow vermelho.
 
Foto oficial da saída de campo. Da esquerda para a direita: Emílio, Lilian, Cristhiane, Fabiano, Lucas. Foto de: Emílio Merino

Airglow vermelho e galáxia de Andrômeda à direita.