sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Ocultação de Júpiter em 28 de novembro de 2012

O dia 28 de novembro de 2012 reservou um belo espetáculo celeste para nós aqui embaixo na Terra, pelo menos para aqueles que estavam no centro-sul do Brasil e norte da Argentina: uma ocultação do planeta Júpiter pela Lua.

Curitiba é uma cidade conhecida pelos seus céus quase sempre nublados, e não foi diferente nos dias anteriores. Mas no dia da ocultação a cidade se comportou direitinho, como uma criança muito bem-educada. Nos dias posteriores, voltou ao normal.

Tive acesso ao terraço do edifício onde moro e montei lá meus equipamentos. Fui com tempo de sobra não só para montar, mas para ver o pôr do Sol e o nascer da Lua, que ocorreriam antes do evento da ocultação. Com tudo montado, esperei pelo Sol tocar o horizonte oeste-sudoeste sob um céu todo azul.

Pouco antes das 20 horas no horário de verão brasileiro, o Sol se pôs num belo espetáculo. Um disco amarelo-alaranjado brilhante descendo por trás de árvores longínquas.



Assim que o Sol se pôs, virei o telescópio para o outro lado e comecei a esperar pelo nascer da Lua na Serra do Mar. Havia dois prédios próximos do setor onde ela nasceria que poderiam atrapalhar. Mas qual não foi minha surpresa quando ela nasceu exatamente no espaço entre eles! Bem, nasceu com uma parte escondida atrás de um deles, mas o efeito até que ficou legal, pois o prédio tinha janelas que refletiam as cores do pôr do Sol.



Logo depois da Lua, Júpiter apareceu, sendo facilmente detectável ao binóculo abaixo dela. Passados alguns minutos, já era possível vê-lo a olho nu, juntamente com a Lua e o prédio. A Lua estava com uma bela cor laranja e depois amarela, e as janelas do prédio ainda refletiam as cores do outro lado do céu.



À medida que iam subindo, Lua e Júpiter iam ficando mais próximos. Era uma cena incrível. Ao binóculo era um espetáculo! Ia escurecendo e eu estava esperando o horário das 21:05, quando ocorreria a imersão do planeta.


Logo antes do horário da imersão, deixei a câmera fotográfica preparada para fazer fotos em time-lapse da imersão, acoplada ao telescópio apocromático de 600mm de distância focal. Enquanto isso, comecei a olhar pelo outro telescópio, de 1000mm. Havia alguma turbulência devido ao fato da Lua e Júpiter ainda estarem baixos no céu. Durante a ocultação estaria acontecendo também o trânsito da sombra do satélite Ganimedes pelo disco de Júpiter, mas não consegui enxergá-la. Mas a entrada do planeta por trás da Lua foi lindo de se ver! Em pouco mais de 2 minutos, a Lua engoliu Júpiter, com suas faixas equatoriais de nuvens, completamente.



Não passou 1 minuto do fim da imersão e meu celular já tocou. Era o Mendonça, avisando que estava vendo a Estação Espacial Internacional passando no outro lado. Virei-me e lá estava ela! Aquele ponto brilhante se deslocando pelo céu, a aproximadamente 400km de altura. Fiquei acompanhando-a por mais ou menos 1 minuto, quando ela finalmente entrou na sombra da Terra e desapareceu.

Desci ao meu apartamento para jantar e esperar pela emersão. Deixei tudo no terraço. Faltando poucos minutos, subi de volta. Novamente deixei a câmera fazendo um time-lapse no telescópio pequeno e mirei o grande para olhar. Como dessa vez não havia referência para saber exatamente onde Júpiter apareceria, tive que ficar atento. Então, de repente, surgiu um calombo. Lá estava ele. Dessa vez havia menos turbulência, e o planeta estava bem mais bonito. Além disso, havia uma finíssima faixa preta entre o disco da Lua e de Júpiter, separando os dois. Era o resultado da pequena faixa da noite lunar visível, ou seja, o início da fase descrescente da Lua. Coincidentemente, tinha havido um eclipse penumbral da Lua algumas horas antes. Esse tempo de algumas horas já havia sido suficiente para deixar visível para nós uma finíssima parte do lado escuro da Lua.



Foi então que, de repente, lá estava ela! A sombra de Ganimedes no disco de Júpiter. Quando o planeta já estava metade para fora, a sombra apareceu como um minúsculo ponto negro na superfície. Foi uma cena inesquecível, que vai ficar na minha memória para sempre. As belas faixas equatoriais de Júpiter e um ponto negro na superfície, vagarosamente saindo de trás da Lua. Em pouco mais de 2 minutos o planeta apareceu completamente e a distância entre ele e a Lua começou a aumentar.

A olho nu já foi possível notar o calombo na borda da Lua, que começou a se separar e a se distanciar. Desmontei os equipamentos correndo pois deveria devolver a chave do terraço para o porteiro até às 22:30, e já eram 22:15. Já no apartamento a Cristhiane chegou em casa do trabalho e viu o belo par no céu. Ela me contou que alguns professores no Colégio Estadual do Paraná acompanharam o evento. Ela mesma viu o par antes da ocultação.

No dia de Natal teremos outra ocultação de Júpiter. E novamente, haverá o trânsito de uma sombra pela superfície durante a ocultação, mas dessa vez do satélite Io.

Nas fotos não há os detalhes que consegui notar pelo telescópio pois meus equipamentos não são para fotografia planetária. Mas valeu o registro na minha memória!

Abaixo, deixo os links para os vídeos time-lapse. De preferência, assistam com tela cheia e qualidade máxima (HD 1080 pontos):

Entrada de Júpiter:

http://www.youtube.com/watch?v=S_ASenDWSoo

Saída de Júpiter:

http://www.youtube.com/watch?v=BtroLs1-KNk

2 comentários:

  1. Parabéns, Fabiano! Você fez um excelente registro do evento. Abraços, Flávio.

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  2. Cara, realmente muito bom o registro, certamente vc viu mais que nós lá no poli.

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