quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Fenômenos Óticos na Serra do Purunã (PR)

É muito gratificante quando introduzimos em alguém um conhecimento em uma área diferente do que a pessoa está acostumada, e depois essa pessoa começa a desenvolver habilidades próprias nesse novo campo. Mais gratificante ainda é quando essa pessoa é nossa esposa.

Aconteceu a 60km a oeste de Curitiba, na região chamada Serra do Purunã, no dia 17 de dezembro de 2011. Estávamos chegando em uma pousada onde nos hospedaríamos. Eu voltada lá de dentro da recepção, e ela, dentro do carro, chamou minha atenção com uma aparente urgência. Eu, do lado de fora, fiquei até meio preocupado com o que poderia ter acontecido, até porque não escutava o que dizia. Abri a porta e ela falou agitada "Olha o parélio!!!"

Era muito brilhante. Foi o segundo mais brilhante que já vi na vida. Trata-se de um fenômeno ótico atmosférico que ocorre ao lado do Sol, a uma certa distância dele, na mesma horizontal.

Parélio à direita do Sol


Depois de contemplá-lo, comecei a imaginar a possibilidade de aparecer um arco circunzenital. Trata-se de um fenômeno belo que ocorre alto no céu quando o Sol está baixo, e se parece com um sorriso colorido. Os cristais de gelo responsáveis pelos dois fenômenos são os mesmos. Como as nuvens estavam vindo da direção do Sol para nós, a possibilidade de aparecer um era razoável.

Pegamos o carro e nos dirigimos ao nosso chalé. Ao sair do carro, meu coração disparou. Não era um ataque do coração, mas minha reação à visão mais espetacular que já tive em toda minha vida em se tratando de ótica atmosférica. O mais brilhante arco circunzenital já visto. Um maravilhoso sorriso no céu, com cores vívidas e puras. Muito brilhante! Lá estava ele. Fiquei louco, e levei minha esposa Cris à loucura também. Comecei a falar alto, sem mesmo verificar se o chalé perto do qual estávamos era mesmo o nosso, e não o de outro hóspede que poderia achar que havíamos bebido até estourarmos. Fui rapidinho checar e era o nosso mesmo.




E não era só isso. Apesar de fraco, apareceu também um halo raro, o arco supralateral. Ele está melhor visível na segunda foto. É um arco na esquerda do enquadramento, abaixo do circunzenital, voltado para baixo.

Essas visões vão ficar para sempre na minha mente. Contemplamos os fenômenos por vários minutos. Minha esposa adorou.

Mais informações, em inglês sobre os fenômenos descritos aqui:

Parélio: http://www.atoptics.co.uk/halo/parhelia.htm
Arco circunzenital: http://www.atoptics.co.uk/halo/cza.htm
Arco supralateral: http://www.atoptics.co.uk/halo/supinf.htm

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Halos e Casamento

Pessoal, passei um tempo sem postar nada no blog pois casei-me. Meu tempo estava mais voltado para as tratativas do casamento... mas não que eu tenha deixado de olhar o céu. A propósito, minha esposa tem compartilhado comigo o gosto pelos fenômenos celestes e até me chamando a atenção para a aparição de fenômenos óticos, como contarei no próximo post.

E parece que os halos têm nos perseguido. Dia 6 de novembro, 20 dias antes do casamento, tinhamos marcado uma sessão de fotos na praia como parte dos nossos álbuns do casamento. Participaram um fotógrafo e um maquiador. Fomos para Caiobá, litoral do Paraná, e não deu outra: um belo halo circular no final da nossa sessão. O fotógrafo e o maquiador disseram nunca ter visto esse tipo de fenômeno, e aproveitaram para tirar fotos nossas com o halo. Como eu não estava com meu equipamento pessoal, não posso colocar aqui fotos desse fenômeno.

Dia 26 de novembro foi o dia do casamento. E outra vez: halo circular perto do meio-dia, para coroar meu dia tão esperado e especial.




Depois do casamento fomos para nossa Lua de Mel, no município de Governador Celso Ramos, em Santa Catarina. No dia 29 de novembro, um parélio nos deu as graças, aqui visto à esquerda do Sol.


Mais ainda por vir. Aguardem.


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Arco-Íris Terciário na Alemanha

Recentemente uma foto histórica foi publicada no site de Ótica Atmosféria (http://www.atoptics.co.uk/), mantido pelo expert no assunto Les Cowley. Trata-se de uma foto de um arco-íris terciário.

A imagem que fazemos de um arco-íris é a de um grande arco colorido no céu, no lado oposto ao sol. Por vezes, quando olhamos para um arco-íris, podemos ver um segundo arco por fora dele, com a ordem das cores invertida e mais fraco. O arco-íris mais forte é chamado primário, e o outro é chamado secundário.

A luz solar interage com uma gota de chuva para produzir os arco-íris. O primário é formado quando um raio de luz que vem do sol sofre uma refração ao entrar na gota, então sofre uma reflexão lá dentro e uma nova refração para sair da gota. Já o secundário é formado por uma refração, duas reflexões e uma refração.

Mas os raios de luz podem sofrer mais que duas reflexões dentro da gota. O arco-íris formado com 3 reflexões é chamado terciário, ou de terceira ordem; o formado com 4 reflexões é chamado quaternário, ou de quarta ordem, e assim por diante. Ocorre que os arco-íris terciário e quaternário se formam no mesmo lado do sol, e não no lado oposto como o primário e o secundário. E, da mesma forma que reparamos que o secundário é bem mais fraco que o primário, o terciário é bem mais fraco que o secundário. Além diso, há o brilho do sol que atrapalha sua visualização. O quaternário então nem se fala, é mais fraco que o já fraco terciário.

Recentemente, contudo, apareceu uma foto que, depois de imensamente processada e tratada, revelou o fraco arco-íris terciário. Foi tirada na Alemanha, sendo que o posicionamento das nuvens de chuva contribuiram para reduzir o ofuscamento do sol. Vejam a foto:


Foto de: Michael Großmann

A foto "A" é a original, enquanto que a "B" foi processada para revelar o arco-íris terciário.

Informações extras se encontram em http://www.atoptics.co.uk/rainbows/ord34.htm em inglês.

O arco-íris de quinta ordem é extremamente fraco, sendo mais fraco que o quaternário. Sua vantagem, porém, é que volta a ocorrer no lado oposto do sol. Ele ocorre quase junto do secundário, as cores vermelhas de ambos quase coincidem, mas suas outras cores se distribuem para o outro lado em relação ao secundário. Ou seja, o arco-íris de quinta ordem ocorre dentro da chamada Faixa Escura de Alexander, uma faixa mais escura do céu entre os arco-íris primário e secundário. Não existem fotos aina desse arco-íris. O desafio está lançado!

domingo, 2 de outubro de 2011

Eventos Importantes no Céu de Goiânia

Olá pessoal! No último dia 30 amigos meus fotografaram um festival de halos no céu de Goiânia, onde moram. Lorenlay e Gustavo pegaram suas câmeras, cada um em seu local, e não deixaram passar em branco a bagunça que apareceu sobre suas cabeças.

Os tipos de halos envolvidos na festa foram: halo circular, halo circunscrito, arco circum-horizontal e círculo parélico.

No link abaixo vemos o halo circular (o halo em volta do Sol, por dentro, mais fraquinho), o halo circunsctiro (o halo em volta do Sol, por fora, tangenciando o circular nos pontos superior e inferior), e o círculo parélico (o halo branco que cruza o Sol). Este último é desprovido de cores por envolver apenas reflexão e não refração.
http://www.flickr.com/photos/lorenlay/6199016046/in/contacts/
(foto de Lorenlay Kern)

Abaixo vemos o halo circular, o circunscrito e o círculo parélico. Essa foto foi feita com o Sol mais alto no céu, próximo do zênite, de modo que a configuração dos halos parece um pouco diferente em relação à foto acima. O circunscrito está mais próximo do circular, quase coinidente. Esse tipo de halo se aproxima do circular à medida que o Sol sobe no céu, confundindo-se com ele quando o Sol está exatamente no zênite. E o círculo parélico está pequeno, menor que os outros halos. Isso se deve ao fato dele se encolher com a subida do Sol, desaparecendo em um ponto com o Sol no zênite.
http://www.flickr.com/photos/maia_gustavo/6198219990/in/contacts/
(foto de Gustavo Maia)

Abaixo vemos um trecho dos halos circular e circunscrito, também quase coincidentes, e o halo circum-horizontal na parte de baixo da foto.
http://www.flickr.com/photos/maia_gustavo/6198220142/in/contacts/
(foto de Gustavo Maia)

Parabéns aos dois por fotografarem esse belo espetáculo!

Mais informações, em inglês, sobre esses halos:

Halo circular:
http://www.atoptics.co.uk/halo/circular.htm

Halo circunscrito:
http://www.atoptics.co.uk/halo/circum.htm

Círculo parélico:
http://www.atoptics.co.uk/halo/parcirc.htm

Halo circum-horizontal:
http://www.atoptics.co.uk/halo/cha2.htm

sábado, 1 de outubro de 2011

Super Queda de Temperatura em Curitiba

Normalmente todos os brasileiros ouvem falar das mudanças bruscas de temperatura em Curitiba. Coisas como "a temperatura caiu de 30 graus para 10 graus em 24 horas". Mas a queda de hoje, dia 1° de outubro de 2011, foi fora de série até para os próprios curitibanos. Com a aproximação de uma frente fria (digamos, mais uma entre as milhares que chegam na cidade), a temperatura sofreu a característica elevação que antecede a entrada a frente, para depois cair bruscamente.

Ela chegou a 31 graus às 13 horas. Mas aí começou a peleja. Às 14 horas era de 25 graus, às 14:40 era 19 graus e às 15 horas era 16 graus. Aí sim se manteve nesse patamar o resto do dia e da noite, com alguns períodos de chuva. Se fosse um dia de trabalho, muita gente ia ser pega desprevenida. Mas era sábado.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Sol Manchado

O dia 26 de setembro de 2011 esteve encoberto e frio o tempo todo em Curitiba. Nesse dia eu havia combinado com meus pais que sairia com eles direto do meu trabalho.

Mas então começou uma seqüência de fatos, uma cadeia de eventos inter-relacionados que culminou na foto abaixo. Primeiro, a saída com meus pais foi adiada para mais tarde, de modo que fui para casa depois do trabalho. Segundo, apesar do céu continuar encoberto, havia uma pequena e estreita faixa de céu aberto no horizonte oeste, que se formou no local certo e na hora certa. Prevendo que o sol passaria por tal abertura antes de se pôr, montei o equipamento de fotografia e esperei. Havia uma leve poluição, de maneira que o sol não estaria muito forte quando descesse no horizonte.

Quando o sol apareceu na abertura do céu, esperei mais um pouco para ele se aproximar do horizonte, e comecei a fotografar. Depois, pelo visor da câmera olhei a imagem do sol. Foi aí que percebi, na frente do disco solar, algo que parecia uma pequena nuvem ou talvez fumaça, compondo cenário com algumas outras nuvens rreais que passavam na frente do sol. Parecia uma mancha escura, e achei estranho.

Foi aí que levei um susto. A mancha se movia junto com o sol à medida que ele descia em direção ao horizonte. Foi quando me toquei: eram gigantescas manchas solares. Manchas que mostravam o quão violento estava o sol nesses dias. Fotografei mais.

Manchas solares são regiões de temperatura menor mas com campo magnético muito alto, relacionadas à períodos de alta atividade do Sol. Parecem manchas escuras se vistas com um filtro solar.

De fato, o sol estava atravessando um período de intensa atividade nesses dias. Grandes manchas eram esperadas, mas eu nunca havia sido um ativo observador do sol. Ocorre que quando vi tamanhas manchas, fiquei impressionado e decidi acompanhar mais de perto as variações de humor do sol.


ATENÇÃO: Nunca olhe para o Sol sem filtros apropriados, seja a olho nu ou com equipamentos. E, para olhar a olho nu, nunca use filme fotográfico velado, radiografias, filtros ND, filtros polarizadores etc. Use SOMENTE filtro de soldador número 14, adquirido em lojas de ferragens por preços irrisórios.

sábado, 24 de setembro de 2011

Pôr do Sol no Equinócio

Poisé pessoal, estamos na primavera! Apesar de que em Curitiba a primavera foi acompanhada de uma frente fria das fortes, fazendo o tempo, antes já frio, ficar invernoso.

Mas na véspera, dia 22, tivemos na cidade um belo pôr do sol. Na verdade, faltavam apenas 12 horas para a hora exata do equinócio de primavera quando o sol se pôs por aqui.

A propósito, equinócio é uma palavra que vem do latim: aequus significa igual, e nox significa noite. Noites iguais, donde os dias também são iguais, ou seja, têm a mesma duração, e isso em todo o planeta.

Abaixo, seguem duas fotos do pôr do sol no dia 22 de setembro em Curitiba. Na foto de cima, algumas manchas solares são visíveis próximas do limbo inferior. Na de baixo, uma minúscula mancha é visível próxima do limbo superior. Para ver as manchas é necessário clicar nas fotos para ampliá-las.


sábado, 17 de setembro de 2011

Vôo Curitiba - BH - Curitiba

Olá pessoal, passei uma semana em Minas Gerais entre os dias 7 e 14 de setembro de 2011, sendo que minha noiva foi comigo, ficando até o dia 11. Claro que peguei minhas janelas no avião!

No vôo de ida, saimos de Curitiba sob chuva e frio, com nuvens baixas. Em Minas, contudo, o tempo estava ensolarado e quente. Ainda na altitude de cruzeiro mas já mais próximo de Belo Horizonte, fotografei a curvatura da Terra. Para tirar essa foto tomei o cuidado de fazer a linha do horizonte passar pelo centro do enquadramento, para evitar qualquer distorção causada pela lente. Ou seja, a curva mostrada no horizonte realmente estava lá.


Vocês podem perceber a curvatura da Terra estando em um avião, mas precisam olhar o horizonte prestando atenção. Um pouco de treino é bom. Quando vocês menos esperarem, ela estará lá.

No vôo de volta, novamente a partida em Belo Horizonte se deu com sol e calor, apesar da presença de algumas nuvens de média altitude. Em Curitiba, frio e garoa. As nuvens sobre a cidade, contudo, mostraram-me um fenômeno chamado "arco de contraste em nuvem" durante a descida. Na verdade, vou ainda pesquisar direito sobre esse fenômeno pois não o entendo direito.


O arco de contraste em nuvem é essa tênue faixa mais clara na superfície das nuvens, indo do primeiro plano até o horizonte. Não era nada inerente às nuvens pois ela se movia junto com o avião.

A curvatura no horizonte, aproveitando, não se refere à curvatura da Terra. É apenas distorção da lente.

Logo depois, exatamente no momento que o avião entrou na nuvem, apareceu, por um brevíssimo período, um "arco-íris de nuvem". Esse arco-íris é branco, ao contrário dos arco-íris convencionais. Ele se formou pois o sol ainda brilhava sobre as gotículas da nuvem. Desapareceu logo em seguida, quando o avião adentrou de vez na nuvem.


Debaixo dessas nuvens, estava 12 graus com garoa. Também ocorre garoa no momento que escrevo esse post.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Ocaso da Lua em Curitiba

No dia 31 de agosto eu estava comendo a sobremesa do jantar com meus pai e mina noiva. Em um determinado momento eles todos foram até a cozinha, e de repente lembrei-me da Lua, que devia estar próxima do horizonte, se é que já não havia se posto.

Larguei a sobremesa às pressas e corri até o quarto. Deu tempo! Fui recompensado pela bela visão de uma luinha crescente fina, já próxima do horizonte mas ainda brilhando relativamente forte devido à limpidez do ar. Chamei minha noiva, que me fez companhia admirando a Lua. Montei a câmera rapidamente e tirei algumas fotos quando a Lua se aproximou ainda mais do horizonte.

Logo em seguida, admiranos seu ocaso.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Astrofesta

No sábado, dia 13 de agosto, eu e minha noiva Cris organizamos uma astrofesta para o pessoal do Clube de Astronomia (CACEP). O intuito era uma confraternização entre os membros do clube, um momento de descontração.


O céu estava limpo e, mais cedo, emprestei um telescópio do Mendonça, pois o meu estava em Campinas com meu pai, que o trazia de Minas de carro depois das minhas noites de observação na Fazenda Cartago (vide post anterior, de 9 de agosto). Lá pelas 14:30 fui à casa dela para ajudar na preparação da festa.

Poucos minutos depois das 18 horas fomos com o prof. Paulo, que já estava no encontro mas se retirava devido a um compromisso no litoral, lá para fora e vimos uma baita lua cheia, de cor amarela, baixa no nascente, fazendo contraste com o céu azul escuro. Compondo com algumas araucárias, a cena estava linda.

Mais tarde outros convidados começaram a chegar e fomos lá para fora dar uma olhada no céu. Estava quente e estrelado, apesar do brilho da lua. Conversamos bastante e vimos Saturno, aglomerado do Ptolomeu (M7), da Borboleta (M6) e a dupla do Albireo. Também divisamos um pouco da constelação do Cisne, que estou aprendendo a desenhar no céu. A Lua também foi vista pelo telescópio, apesar do seu brilho intenso.

Depois fomos para a parte gastronômica, com destaque para uma torta salgada feita pela Cris! Todos adoraram, inclusive eu.

Após os comes, liguei o projetor multimídia e projetei na parede algumas fotos feitas na fazenda Cartago. Antes, ninguém ainda havia visto as fotos pois eu não as havia liberado ainda. Fiz algumas pequenas explanações sobre os objetos encontrados nas fotos, e batemos muito papo acerca de assuntos astronômicos.

Foi um encontro muito gostoso, com muita descontração e observação naquela que foi a noite mais quente do mês de agosto.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Noite de Observação em Minas Gerais

No dia 27 de julho dirigi-me à fazenda Cartago em Minas Gerais para, além de visitar parentes, que são donos da fazenda, fazer observações astronômicas. Eu estava em férias naquele estado desde o dia 16 de julho e já havia ido com o intuito de, em algum momento dessas férias, ter uma noite astronômica.

Minas Gerais tem um inverno bastante seco, com muito pouca chuva no mês de julho (alguns anos a chuva é zero nesse mês). Um céu limpo é praticamente garantido no inverno. Em contrapartida, exatamente devido à seca, o ar fica sujo de material particulado. É possível notar isso de dia, pois o azul do céu fica desbotado. Essa sujeira no ar inibe um pouco o brilho das estrelas à noite e faz com que a iluminação das cidades contamine regiões mais longínquas do que com o ar limpo.

Havia sido marcada com meus parentes a data de 27 de julho para a viagem à fazenda, uma quarta-feira. Na semana anterior o ar estava bastante sujo, apesar da total ausências de nuvens. Mas fiquei sabendo de uma forte frente fria que passou a atuar no sul do Brasil no final daquela semana. Fiquei então torcendo para que ela entrasse em Belo Horizonte antes da minha viagem, já que as frentes frias no inverno mineiro raramente duram mais que 2 dias mas ainda assim têm o potencial para limpar o ar por alguns dias.

Realmente, no domingo à tarde, dia 24, ela entrou na região de Belo Horizonte. O céu ficou nublado com poucos períodos de sol na segunda. Eu esperava que ela saísse na terça e que o ar continuasse límpido até quarta, mas a terça-feira foi um dia encoberto e, até certo ponto, frio. Mas decidi continuar mantendo minha aposta. A quarta-feira amanheceu feia, mas começou a abrir no final da manhã. E vi que seria uma limpada definitiva. E lá estava o azul vívido, não mais aquele azul desbotado da semana anterior. A frente fria passara, e removera todas as partículas da atmosfera. No começo da tarde o céu estava lindo, azul forte, e sem nuvens. A duração da frente fria me preocupou, mas tudo se resolveu.

Assim, parti com meus pais para a fazenda no final da tarde. Já estava louco para começar a trabalhar. Carro lotado com equipamentos, incluindo para observação um telescópio de 200mm de diâmetro (fabricação do Sandro Coletti) e oculares de 19mm e 5.7mm, e para fotografia uma câmera Cânon 400D modificada para astrofotografia, telescópio apocromático 80mm de diâmetro e 600mm de distância focal e montagem Skywatcher EQ-5 pro para acompanhamento.

Comecei as observações pouco antes das 23 horas sob um céu maravilhoso de estrelas. A fazenda localiza-se no município de Baldim e situa-se a 67km em linha reta ao norte da praça da Liberdade, em Belo Horizonte. Apesar da distância não muito grande e do fato de BH ser uma cidade gigantesca, a qualidade do ar estava de tal forma boa que a iluminação da cidade quase não afetava a região da fazenda. O céu estava extremamente escuro, com a exceção de alguma iluminação no sul vinda de BH.

Observei objetos clássicos meus, como a Nebulosa da Lagoa (M8), da Trífida (M20) e da Hélice. Também entrou na conta a galáxia de Andrômeda, que em Minas apresenta melhores condições de observação devido à maior elevação no céu que ela atinge naquele local. Observei também alguns objetos que há mito tempo não via, como o aglomerado M11. E também um que penso nunca ter observado, o aglomerado M30. Particularmente achei bastante interessante esse objeto, é um aglomerado de estrelas com um formato peculiar, parece um aracnídeo onde se vê três pernas.

Também aproveitei para fazer astrofotografia. Com a qualidade superior do céu da fazenda resolvi fotografar o par de nebulosas Lagoa e Trífida. Resolvi, também, aprender a achar a Nebulosa América do Norte, uma nebulosa gigantesca no Cisne. Ela não é visível ao telescópio, mas é possível fotografá-la. Fiz também fotos de grande campo envolvendo o cenário da fazenda com suas árvores, a sede e seu céu espetacular de inverno.

Mas algo me chamou muito a atenção nessa noite. Eu havia me esquecido completamente, mas a chuva de meteoros Delta Aquarídeos estava bem próxima do seu pico. Essa chuva é considerada forte e tem uma taxa média de aproximadamente 20 meteoros por hora. E realmente, de tempos em tempos um deles riscava rapidamente o céu. Eu só me lembrei dessa chuva quando percebi que eram vários, e muitos deles aparentemente vinham de um ponto comum do céu, o chamado radiante, localizado em Aquário no caso dessa chuva. Um dos meteoros foi mais forte e deixou um rastro de fumaça atrás de si que durou meio segundo. E por coincidência, dois meteoros passaram na frente do campo do telescópio, enquanto eu olhava algum objeto.

Foi um belo espetáculo essa chuva de meteoros! E a noite toda! Fazia tempo que eu não tinha uma noite de observação desse porte.

Fiquei até às 4 horas da manhã, mas na noite seguinte recomecei as atividades desde o final do anoitecer. Dessa vez houve a participação dos meus pais e do casal dono da fazenda, que aproveitaram para conhecer alguns objetos celestes ao telescópio, como a nebulosa da Carina, a Caixa de Jóias, nebulosa da Lagoa, Ômega do Centauro, Grande Aglomerado da Carina e Plêiades do Sul (também na Carina). Mas foi o planeta Saturno que despertou a maior curiosidade do pessoal.

Enquanto isso, não deixei de reparar na luz zodiacal, uma faixa luminosa em forma de triângulo estreito e alto que surge após o final do anoitecer no poente, derivada do espalhamento da luz solar em partículas interplanetárias. Ela estava bem proeminente e aproveitei para tirar uma foto dela. Fiz também um ensaio fotográfico com as pessoas, o cenário da fazenda e o céu.

Houve uma cobertura de nuvens mais tarde e encerrei as atividades lá pelas 23 horas, mas as duas noites valeram muito! Ainda, antes de dormir, dei uma olhada no céu pela janela, que estava aberto de volta.

Agradeço ao Hugo e à Regina pela acolhedora estadia na fazenda e ter possibilitado que eu tivesse essas duas magníficas noites de observação! Classifiquei a primeira noite como a noite mais favorável à astronomia que já tive na vida.
As fotos serão liberadas semana que vem. Fiquem ligados!

terça-feira, 5 de julho de 2011

Flash Verde

Caramba, ficou uma foto do pôr do Sol para trás! Ela foi tirada dia 13 de junho em Curitiba e mostra, no limbo superior do Sol, o fenômeno chamado Flash Verde.


Esse fenômeno é causado pela turbulência da nossa atmosfera, mais evidente quando o Sol está baixo no horizonte. A luz solar é formada por todas as cores, e cada cor é refratada de uma maneira diferente (um ângulo diferente). A luz verde parece se destacar do Sol por refratar mais que outras cores.

Apenas para uma informação mais técnica, a luz azul se refrata ainda mais que a verde. Ocorre que a atmosfera absorve e espalha de maneira mais eficiente essa cor, impedindo-a de chegar aos nossos olhos.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Pôr do Sol, eclipse, nascer da Lua - tirando o atraso!

Esses tempos andei ocupado com assuntos pessoais, mas o Sol e a Lua não pararam de dar espetáculos. Resultado: acúmulo de material! O dia mais importante em termos atmosféricos e celestes dentro dos últimos dias foi 15 de junho, dia do eclipse lunar total.

Mas esse eclipse foi limitado para nós aqui no Brasil, pois a Lua já nasceu eclipsada. Em Curitiba, especialmente, a grande poluição no ar causada pela falta de chuvas limitou ainda mais a visão do eclipse. Dessa forma, só pude começar a perceber a Lua quando ela inicou sua saída da sombra.

Um pouco mais tarde a Lua, já mais alta no céu e na fase parcial do eclipse, apareceu melhor.

O eclipse às 18:11

De qualquer forma, tentei pegar em foto a Lua ainda na fase de totalidade.

O eclipse às 17:59.

Não resisti e fiz uma brincadeira em HDR logo após a totalidade, já com uma pequena parte da Lua brilhando ao sol. O HDR é uma técnica utilizada para se tentar fotografar objetos com muita diferença de brilho. Com isso eu quis pegar detalhes tanto na área de sombra como na área iluminada da lua.

O eclipse em HDR.

O show continuou no dia seguinte, 16 de junho. O pôr do Sol foi lindo, com o disco solar afetado pela estratificação da atmosfera. Essa condição se deve ao fato do perfil vertical de temperatura não seguir o padrão normal, havendo camadas de inversão térmica (aumento da temperatura com o aumento da altitude). Note na foto que, do lado direito do disco solar, aparecem algumas manchas solares.


Aproximadamente uma hora depois, nasce a Lua por detrás da Serra do Mar!


Vamos ver o que os próximos dias nos reserva!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Pôr do Sol Estratificado

No dia 12 de junho de 2011 acompanhei o pôr do Sol em Curitiba. O tempo por aqui anda bastante seco e limpo, condição ideal para a formação de inversão térmica e o consequente aprisionamento de poluentes sobre a cidade.

Isso porque a temperatura tem variado bastante durante o dia, com mínimas de 4 graus e máximas de 20. A falta de umidade no ar permite uma grande perda de calor pr parte do solo durante a noite, deixando uma camada de ar mais frio próximo à superfície, caracterizando a inversão térmica. Em outras palabras: o ar fica estratificado.

O Sol, baixo no horizonte, evidencia algumas camadas de inversão. Seu disco aparenta estar com algumas orelhas por conta dessas camadas.

sábado, 4 de junho de 2011

Conjunção Saturno Porrima II

Saturno e Porrima continuam de braços dados nos céus. No dia 29 tirei mais algumas fotos dessa duplinha.


Nesta foto um avião em aproximação ao aeroporto de Curitiba quase os tocou. Saturno e Porrima são os dois pontinhos logo acima do rastro do avião, um pouco à esquerda. À direita deles, também acima do rastro, está a estrela Spica.


Aqui a duplinha está quase no centro. Grande parte do campo desta foto pertence à constelação da Virgem, da qual Porrima faz parte.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Lua Nova

No dia 1° de junho houve um eclipse solar parcial um tanto especial. Ele ocorreu no Àrtico, e à meia-noite. Ou seja, eles tiveram um eclipse do Sol da Meia-Noite. Eu não fui lá ver, mas um dia depois, dia 2, decidi tentar achar a Lua no céu, que estaria tão fina quanto um fio de seda.

O ciclo lunar é contado em dias a partir da Lua nova, ou seja, a partir do momento que a Lua passa pelo seu ponto mais próximo do Sol, vista da Terra. Uma Lua de 7 dias, por exemplo, é uma Lua crescente, uma semana depois da Lua nova. Normalmente diz-se que a Lua está com tantos dias de idade.

A foto abaixo mostra a Lua com 0,97 dia de idade, ou seja, pouco menos de 24 horas. Foi a Lua mais fina que já consegui ver. Ao binóculo eu percebia aquele fio de seda, tão fino quanto a lâmina de uma navalha! Nunca tinha visto a Lua tão fina assim. Ela está próxima da borda superior da foto.


Se o tempo estiver bom faço uma nova tentativa na próxima Lua nova.

sábado, 28 de maio de 2011

Conjunção Saturno Porrima

Nos últimos dias muita gente ligada à astronomia tem comentado sobre a conjunção entre Mercúrio, Vênus, Marte e Júpiter nas últimas horas da madrugada. Urano também tem estado mais ou menos na mesma região do céu. E quando a Lua passa por lá, a confusão está completa.

Mas para que tem dificuldades de acordar cedo, há uma outra conjunção em andamento, mas que anda meio renegada. Trata-se do planeta Saturno e da estrela Porrima, da constelação da Virgem. Na foto abaixo, a conjunção está no centro da foto, com Porrima à esquerda e Saturno à direita.



Esta foto foi tirada no dia 25 de maio de 2011 em Curitiba. No começo do mês que vem os dois corpos estarão em sua aproximação máxima, com pouco mais de 15 minutos de arco. Saturno então iniciará um movimento retrógrado, afastando-se da estrela pelo mesmo lado que veio se aproximando.

O esquema abaixo mostra a posição relativa do par. A linha vermelha indica o caminho de Saturno pelo céu, onde os números indicam o dia, a partir de 8 de maio na linha de cima, até dia 12 de junho na linha de baixo.



Lembrando: sempre clique nas imagens para ampliar.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Semana Memorável

A semana de 02 a 06 de maio em Curitiba foi espetacular em termos de limpidez do céu. Raridade por aqui, tivemos vários crepúsculos espetaculares e noites limpas.

Isso foi resultado de uma massa de ar polar que penetrou o sul do Brasil depois da passagem de uma rápida frente fria, no domingo dia 1°. De segunda até quarta as temperaturas ficaram baixas, e na quinta e sexta ficaram amenas, bem agradáveis, mas sempre acompanhadas por céu praticamente livre de nuvens.

Na segunda-feira o céu estava tão límpido e livre de poluição que o Sol, mesmo quase se pondo, estava quase tão forte quanto ao meio-dia! Na foto abaixo, tive que reduzir tanto a exposição que o céu praticamente não apareceu, por causa do intenso brilho do Sol.



Nessas condições, o que me chama muito a atenção pela sua beleza é o Cinturão de Vênus, a faixa avermelhada que se ergue no céu depois do pôr do Sol, mas no lado contrário. Ela divide a parte da atmosfera iluminada pelo Sol da parte mergulhada na sombra.



Mais tarde resolvi brincar com astrofotografia urbana. Fiz tudo o que não se faz em uma cidade. Tudo bem, foi apenas por desafio. Assim, segue uma foto do objeto celeste catalogado por Messier como número 4, ou M4, na constelação do Escorpião.



E M17, ou Nebulosa Ômega, em Sagitário.



Na terça-feira o céu fechou logo após o pôr do Sol. Mas na quarta tivemos outro anoitecer lindo. Abaixo, o céu logo após o pôr do Sol.



Foi então que notei a Lua. Estava fina... tão fina quanto um fio de seda!!!





Na quinta a beleza do anoitecer se repetiu, com a presença da Lua fina. Mas foi na sexta que tive mais trabalho. Um flare de Iridium com magnitude de pico -7 (ou seja, muito brilhante) ocorreria às 18:38:09. Devido à limitação de ângulo de dentro do apartamento, resolvi descer para fotografar e vê-lo. Uma moradora do prédio, que chegava, foi ver o que eu estava fazendo. Ela teve a sorte de chegar exatamente na hora do flare! E achou um espetáculo!! Eu que me distrai um pouco e não mirei bem a câmera, mas valeu! Ainda por cima peguei um avião que passara poucos segundos antes do satélite.



Mas no sábado anterior a toda essa conversa, dia 30 de abril, o céu deu um espetáculo depois da meia-noite. Houve uma chuva à tarde, seguida por uma condição que dispersou todos os poluentes do ar. Resultado: céu maravilhoso de madrugada, considerando-se um ambiente totalmente urbano. Da casa da minha noiva vi objetos celestes que nunca vejo da cidade, dentre eles o Messier 7 e Ômega do Centauro. Esse último particularmente nunca imaginei que um dia veria de dentro de Curitiba!

Chegando em casa algumas nuvens altas apareceram, mas na verdade elas adicionaram uma beleza particular. Elas eram onduladas.



Semana memorável!!!

domingo, 17 de abril de 2011

Espetáculos de 14/04/11 em Curitiba

Não foi só o dia 14 de abril que houve espetáculos no céu curitibano. O mês tem sido bem generoso com bastante céu azul, sol e calor. Mas particularmente o dia 14 esteve bem límpido, com ausência quase total de material particulado no ar, por conta de uma pequena frente fria que passou no dia 13. Resultado: durante o dia, um azul intenso no céu. A ausência de material particulado faz com que o azul do céu se torne mais escuro e intenso. Às 17:56 o Sol já baixava no horizonte. À direita do Sol, uma nuvem se desenvolvia verticalmente. Às 18:07 ela continuava iluminada pelo Sol mesmo estando ele abaixo do horizonte para os mortais aqui embaixo. Mas às 18:10 a sombra da Terra já se erguia pela nuvem. Enquanto isso, raios crepusculares apareciam partindo do horizonte poente. Às 18:18 eles estavam mais intensos. Enquanto isso, no outro lado do céu, havia alguns espetáculos à parte. Uma nuvem próxima também havia se desenvolvido bastante na vertical e, mesmo já estando mais escuro, ainda pegava luz do poente. Assim, às 18:24 ela assumiu uma cor forte, contrastando com o azul escuro do céu, por detrás de um prédio. De volta ao lado do poente, os raios crepusculares continuavam. A nuvem à direita continuava com sua torre alta, iluminada pela luz do poente. Cada dia é um dia diferente! São inúmeros pequenos acontecimentos que compõem a grande obra de Deus!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Investida astrofotográfica

Diferente do resto do ano de 2011, a semana de 4 a 8 de abril foi de tempo excelente em Curitiba! Aproveitando o fato que seriam noites sem Lua, lá fui eu para a pousada Cainã no dia 5, terça-feira. Fui para lá com o Anderson, colega da astronomia. Não fiz apenas fotos, aproveitei também para fazer algumas observações pelo telescópio. Elas incluíram alguns objetos que eu não conhecia! Um deles foi a galáxia do Catavendo do Sul (ou M83 no catálogo de Messier), na constelação da Hidra. Mas o que gostei muito foi um aglomerado de galáxias no Leão, próxima da clássica Leo Triplet. Várias galáxias visíveis ao telescópio, todas como nossa própria Via Láctea... muito impressionante!

Abaixo seguem algumas fotos que tirei por lá.

Nebulosa de Órion - M42




Nebulosa da Tarântula, na Grande Nuvem de Magalhães




Aglomerado de Estrelas Caldwell 71





Aglomerado de Galáxias Leo Triplet




Aglomerado de Galáxias no Leão



Galáxia do Catavento do Sul - M83



Composição de duas fotos - Nebulosa da Flâmula e Nebulosa Cabeça de Cavalo